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The Walking Dead: Survival Instinct

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Uma tragédia pós-apocalíptica

Quando a Telltale trouxe o primeiro capítulo de The Walking Dead, no início de 2012, muita gente torceu o nariz para o título por diversas razões, seja por conta de seu estilo com menos ação e mais focado na narrativa ou pela simples falta dos rostos presentes na série de TV. Afinal, onde estavam Rick, Shane e Daryl?

E era óbvio que isso não iria passar despercebido diante dos olhos dos executivos de grandes produtoras. Com o sucesso do seriado, era apenas uma questão de tempo para que algo relacionado àquele grupo de sobreviventes aparecesse em nossos consoles.

No entanto, The Walking Dead: Survival Instinct não consegue aproveitar o rico material que tinha nas mãos e que conquistou milhares de fãs mundo afora, se tornando mais uma vítima da “maldição” de adaptações. Nem mesmo a participação de Daryl Dixon, o personagem mais popular do programa, como protagonista é capaz de salvar esta bomba.

Se antes tínhamos a certeza de que jogos de filmes seriam um fracasso, as séries de TV estão mostrando que também são capazes de trazer materiais igualmente deprimentes.

Lutando para sobreviver

Para quem conseguir aguentar às péssimas primeiras impressões, Survival Instinct surpreende ao introduzir algumas ideias interessantes que diferem sua mecânica de outros FPS e mostram que, mesmo de maneira mínima, alguns conceitos de The Walking Dead ainda permanecem intactos.


Isso porque o game é mais do que um simples shooter para estourar a cabeça de zumbis. Como o próprio título sugere, o foco aqui é a sobrevivência, o que significa que você precisa se preocupar muito mais em realizar as missões propostas sem chamar a atenção dos mortos-vivos do que realmente enfrentando-os.

Essa abordagem cria um ritmo diferente para o game, obrigando o jogador a estar sempre atento ao que acontece ao seu redor. Ao entrar em uma nova área, é preciso observar a quantidade de monstros e sua localização, assim como possíveis locais para se esconder. É a partir disso que você vai traçar sua rota e estratégia.

E o mais interessante de tudo é que você tem bastante liberdade para criar seu próprio plano e seguir com ele até o final. Se o caminho para o seu destino está repleto de Walkers, é possível tanto se esgueirar atrás de carros e outras barreiras para não despertar a atenção dos devoradores de cérebro quanto jogar uma garrafa na direção oposta para fazê-los seguir o barulho. E, se isso não for o suficiente, você ainda pode partir para a luta — mesmo com sua pouca munição — ou procurar uma saída alternativa.

E como todo jogo de sobrevivência, Survival Instinct traz toda a tensão de encarar um apocalipse zumbi com poucos recursos. Com isso, cada bala se torna um bem precioso e você deve pensar muito antes de realizar cada disparo. Diante dessa escassez de itens, é preciso se virar com facas, pedaços de canos e outras armas “menores”, o que torna os combates e as fugas bem mais emocionantes.

Pé na estrada

A trama de The Walking Dead: Survival Instinct é bem simples. Os mortos-vivos tomaram o mundo e Daryl, que acaba de sair de uma caçada, vê que toda a sociedade que ele conhecia deixou de existir. Diante dessa nova realidade, ele precisa cruzar os Estados Unidos em busca de seu irmão, Merle, e de algum lugar seguro para se esconderem.

No entanto, como tudo na série The Walking Dead, as coisas não são tão fáceis assim. Como estamos falando de uma longa viagem por estradas nos mais diferentes estados, você vai se deparar com barreiras e outros problemas que vão exigir um pouco mais de ação para serem resolvidos.

O primeiro ponto é o consumo de gasolina. Como cada viagem requer um total específico de combustível, você precisa não apenas armazenar os galões espalhados pelas fases como economizar o pouco que está em seu carro.

Ao selecionar uma localidade, você tem a opção de chegar até lá a partir de uma rodovia ou por um caminho alternativo. E por mais que todas as opções levem-no ao mesmo local, cada uma possui suas próprias particularidades — e desafios.

Seguir por uma autoestrada pode ser a solução mais rápida para seus problemas, economizando uma boa quantidade de combustível. No entanto, isso faz com que você encontre menos pontos de abastecimento — cabanas ou vilarejos com comida e munição disponíveis, por exemplo — do que em uma rota mais vazia. Além disso, as chances de seu carro apresentar algum problema são bem maiores.

Tudo isso deve ser levado em consideração antes de seguir para a próxima missão. Assim como na série, os recursos básicos se tornaram itens raros e você não deve desperdiçá-los, fazendo com que cada passo deva ser cuidadosamente pensado.

E é exatamente para evitar ficar na mão que seus companheiros de grupo também trabalham em The Walking Dead: Survival Instinct. Ao longo de suas viagens, outros sobreviventes entram para sua equipe, trazendo uma nova força para o combate.

A diferença é que eles não são apenas um número ou um peso morto a ser carregado. Eles vão ajudá-lo a coletar mantimentos, munição ou gasolina a partir de um pequeno menu. E por mais que eles possam ir armados nessa caçada por itens, nada garante que eles saiam ilesos ou que consigam voltar vivos — o que torna cada atribuição de tarefa uma aposta arriscada.

Essa possibilidade é bem diferente de tudo aquilo que outros títulos do gênero apresentaram, mostrando que Survival Instinct ainda consegue trazer boas ideias. O problema é que o que vem em seguida...

Reprovado

Se você acompanha as análises do Baixaki Jogos, deve ter estranhado o fato de não termos tópicos detalhando quais são os pontos negativos de The Walking Dead: Survival Instinct. Isso porque o jogo em si é um grande erro e seria muito pouco produtivo tentar listar todas as falhas da maneira que sempre fazemos por aqui.

O principal problema do game é que, apesar das boas ideias da Terminal Reality, tudo é tão mal-executado que nem mesmo aquilo que deveria ser um acerto se sustenta. Todos os pontos que deveriam agir como diferenciais dentro de um estilo tão saturado como o FPS se perdem em meio a erros básicos e deslizes que comprometem a experiência e jogam a diversão pelo ralo.

Nem mesmo a presença dos personagens mais populares da série de TV, Daryl e Merle Dixon, consegue tornar as coisas minimamente interessantes. Por mais que os atores emprestem suas vozes ao título, a participação da dupla é tão irrelevante que nem mesmo a proposta de mostrar o que eles passaram antes dos acontecimentos do seriado consegue empolgar.

Além disso, Survival Instinct é o típico game que deixa o jogador tenso do começo ao fim pelas maneiras erradas. Em vez de apresentar uma ambientação pesada ou de trazer fatos que façam com que você tenha medo de seguir em frente, The Walking Dead vai deixá-lo nervoso por conta de suas deficiências na jogabilidade. Você sabe que ela vai falhar e deixá-lo na mão a qualquer momento.

Se a ideia era deixar o personagem impotente diante de um apocalipse zumbi, a produtora conseguiu. O problema é que isso foi feito por conta de uma mecânica precária, limitada e frustrante.

Afinal, qual a dificuldade de trazer um sistema facilitado para a troca de armas? Por que fazer com o que o jogador tenha de passar por todos os seus itens antes de chegar àquele que ele realmente gostaria de usar em vez de trazer todos em uma única tela de fácil seleção? Se você estiver cercado, o tempo necessário para guardar sua faca e procurar a espingarda é o suficiente para que os mortos-vivos o dividam em, pelo menos, 70 partes.

Porém, nada disso se compara à terrível inteligência artificial de Survival Instinct. Ok, sabemos que os zumbis não são as criaturas mais espertas do mundo, mas nem mesmo monstros com cérebros podres se comportam de maneira tão estúpida quanto os inimigos de The Walking Dead.

E isso se divide em vários momentos. Ao entrar em uma nova área e observar o comportamento dos monstros, você vai perceber que a grande maioria deles está simplesmente perdida em cena, revelando uma programação falha e cheia de buracos. Enquanto alguns zumbis devoram corpos pelo chão, outros caminham contra uma parede, correm sem sair do lugar ou dão voltas em torno de si mesmos. Isso quando não estão realizando o mesmo movimento, em uma coreografia pateticamente coreografada.

Mas as coisas ficam ainda piores quando eles percebem que o personagem está em cena e partem para o ataque. Eles possuem uma rota de ação previamente construída, o que faz com que seja fácil prever o caminho que irão tomar. Ao contrário dos mortos-vivos clássicos que vão para cima de sua presa sem se importar com o que há no caminho, eles contornam barricadas, encontram portas e ignoram qualquer lógica para chegar até onde você está — criando situações bem bizarras.

O curioso é que, mesmo assim, a IA é incapaz de reagir diante de algumas ações básicas. É possível escapar de uma horda ao se agachar e passar por baixo de uma barreira, pois eles não sabem se abaixar para segui-lo ou para tentar agarrá-lo. O mesmo acontece quando você sobe em um veículo: independente da quantidade de inimigos, você se torna imortal, uma vez que eles não podem esticar os braços para atingi-lo. Está no Estatuto dos Além-Vida.



Porém, para quem acha que zumbi é bagunça, saiba que eles são muito organizados na hora de tentar devorá-lo. Pode haver uma centena de monstros ao seu redor, mas eles vão mordê-lo de maneira organizada e individual, permitindo que você possa acabar com cada um deles em pouquíssimo tempo. Por que agir como uma criatura morta que se move apenas por instinto e ataca tudo ao seu redor, não é mesmo?

E não podemos nos esquecer do desastre visual que é The Walking Dead: Survival Instinct. O jogo da Terminal Reality consegue ser mais feio do que muitos jogos da geração passada, trazendo um dos gráficos mais deprimentes desta geração. E não estamos falando de simplicidade ou coisa parecida, mas de algo malfeito.

Explorar os cenários é como socar seus próprios olhos. A falta de cuidado é aparente em simplesmente todos os objetos em cena. Prepare-se para encontrar elementos pessimamente modelados, texturas inexistentes e a incrível variação de quatro ou cinco modelos de zumbis em todo o jogo.



Isso sem falar da resolução porca usada em muitas estruturas, criando um terrível efeito de desfoque onde não deveria existir. O interior dos veículos é um mero borrão, assim como alguns dos itens que o próprio Daryl usa. Afinal, quem vai se importar com a qualidade do que se vê quando há sangue jorrando para todos os lados?

E como a desgraça nunca chega ao fim, ainda temos problemas menores que ajudam a espalhar a “porcaria” feita em cima das poucas boas ideias de The Walking Dead: Survival Instinct. O maior exemplo disso é a “brilhante” solução usada para demonstrar o quão cansado o personagem está: o suor.



À medida que ele corre, você vê as gotas escorrendo pela tela. E mais do que um efeito realmente nojento, isso não faz o menor sentido. Por que diabos tem suor escorrendo dos olhos do protagonista? Não era mais fácil simplesmente adicionar o som de uma respiração ofegante como todo mundo faz? Qual a razão de investir em algo que não é legal e não faz a menor diferença na jogabilidade?

Diante de tudo isso, entenda as telas de loading excessivamente longas como uma mensagem da própria desenvolvedora tentando alertá-lo sobre a bomba que vem a seguir. Desligue o video game enquanto é tempo.

Vale a pena?

Já vimos muitos jogos ruins nessa vida, mas foram poucos aqueles que realmente me deixaram mal o suficiente para me impedir de continuar a campanha. The Walking Dead: Survival Instinct traz um misto de desgosto com a vontade de se jogar na frente de um zumbi para ver se o sofrimento tem um fim.

É muito triste ver que o título tinha potencial para ser, no mínimo, divertido para os fãs da série de TV, mas ele consegue falhar em praticamente todos os aspectos e faz com que as poucas boas ideias existentes sejam totalmente eclipsadas pela capa de chorume e derrota que e estende por todos os lados.

Se por um lado é difícil entender como a Activision permitiu que “isso” fosse lançado, por outro é possível imaginar a estratégia da distribuidora e a pressão exercida sobre o estúdio: com a terceira temporada do seriado chegando ao fim, ela quis se aproveitar do momento e da popularidade dos personagens para enganar atingir os fãs. O resultado é um título tão podre quanto uma mordida de zumbi.

Portanto, se você é apaixonado pelas histórias de Robert Kirkman, reveja a série, leia os quadrinhos, procure os livros e jogue os games da Telltale, mas fique longe de Survival Instinct — para o seu próprio bem.

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